sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Wake me up when september ends - Parte 1


Eu esperava por aquele barco há 2 anos e esta seria a última vez que o faria e não iria sentir falta disso, nem um único dia da minha vida! De todas as pessoas que esperavam ansiosamente, eu sentia que era a que tinha o maior aperto no coração. Eu mal podia para ver aquele maldito barco chegar e um aperto no peito crescia à medida que via os minutos passarem. Eu senti-me como há dois anos quando vi o barco partir.
Encontrava-me exactamente no mesmo sítio, mas há dois anos atrás e estava em frente a um homem fardado. Eu chorava e custava-me olhar para a sua cara. O barco aproximou-se e ele subiu-me o queixo e proferiu as palavras que faziam derreter o meu coração:
Amo-te tanto, Ellen.
Eu nada respondi e beijei-o apaixonadamente com tudo aquilo que tinha em mim. Passados alguns segundos senti-o afastar-se. Eu olhei-o nos olhos e dava para ver que também queria chorar, mas não o fazia para se mostrar forte, mas tal como eu sempre dizia “Não sou fraca por chorar, sou forte por mostrar que não tenho medo de o fazer.” Ele continuou-me a olhar nos olhos e disse tristemente:
Tenho que ir agora.
E apertou-me as duas mãos antes de eu desatar a chorar outra vez. Depois envolveu-me num forte abraço que eu juro que foi para eu não poder ver as suas lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto. Quando nos separamos ele estava já a afastar-se em direcção ao barco largando a minha mão. Olhou uma última vez para trás. Não tinha lágrimas a saírem-lhe pelos olhos, mas havia vestígios por toda a cara que indicavam que tinha estado a chorar. Voltei ao presente quando um grave ruído invadiu a minha triste memória.
Aquele era o som de um grande navio. Um navio onde cabia um exército inteirinho vindo do Iraque. Os soldados acenavam contentes às suas famílias e toda a gente tinha lágrimas de alegria na face. Não percebia porquê. O barco ainda estava longe o suficiente para não verem as suas caras. Ainda não tinham visto as caras dos seus entes queridos. Eu devia estar contente por finalmente ver o barco a aproximar-se, mas eu precisava de ver o seu rosto. Estaria muito diferente? Suponho que não, dois anos não eram assim tanto. O navio parou e o meu coração acelerou e eu procurava desesperadamente uma cara familiar. O hino nacional soou e os soldados começaram a descer ordeiramente numa fila. As famílias corriam para os seus familiares, excepto eu. Não conseguia ver nada à minha frente com tanta gente a entupir-me o caminho. Finalmente no final da fila vi-o. Eu vi-o descer daquele barco. Ele já se encontrava a olhar-me com um sorriso quando o encontrei. Não lhe acenei enquanto ele sorria largamente. Desatei num pranto de lágrimas. No entanto ele continuou a observar-me com um sorriso. Depois já não conseguia olhar para ele. Levei as minhas mãos à cara e chorei. Chorei como uma desalmada. Chorei de cabeça para o chão com as mãos na cara. Passados dois ou três minutos senti dois braços fortes envolverem-me num abraço e uma voz a dizer:
Estou em casa, querida.
Esse mesmo homem deu-me um beijo no topo da minha cabeça e bruscamente afastei-me dele e com as minhas mãos puxei a sua cara na minha direcção e beijei os seus lábios. Beijei-o como nunca o tinha beijado. Beijei-o como se não o beijasse há dois anos. Em seguida enrolei os meus braços à volta do seu pescoço e encaixei a minha cabeça no seu pescoço e disse:
Como é que foste capaz de me fazer isto? Odeio-te.
Eu sentia o que dissera. Eu odiava-o por me ter feito ficar numa espera interminável, mas amava-o mais. Ele soltou uma pequena e silenciosa gargalhada e respondeu num tom de voz calmo e doce:


Amo-te. 

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